terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Um brinde à delicadeza

Os vinhos rosés vêm, aos poucos, conquistando olhares e paladares
Por Mônica Vitória

Charmoso, delicado, fresco e rosado. Este é o tipo de vinho chamado rosé, que alia a acidez do branco com um pouco do aroma quente do vinho tinto, embora não seja nenhum dos dois. Sua cor é característica: o cor-de-rosa translúcido também é uma mistura dos dois tipos, e pode variar entre esses dois extremos, dependendo do processo de produção. Com propriedades tão sedutoras, parece difícil resistir a uma tacinha de um bom vinho rosé. Que tal Vinhos Roséconhecer um pouco mais sobre ele?
Os menos entendidos no assunto podem imaginar que o rosé é feito simplesmente a partir da mistura de um vinho branco com um tinto. No entanto, este processo é mais comum para a produção de champagnes rosés. A outra técnica mais utilizada é a de maceração curta das uvas. "As uvas usadas são as tintas, com mais aroma e força, mas o suco fica pouco tempo em contato com a casca, diferentemente do que acontece com a produção do vinho tinto. Logo depois, segue-se a fermentação", explica a sommelier Alexandra Corvo, proprietária da escola de vinhos Ciclo das Vinhas, em São Paulo. Os dois processos exigem cuidado, mas a maceração é ainda mais complexa, e, por isso, produz vinhos com preços mais elevados.


"São vinhos sobretudo refrescantes, frutados, que podem ser bebidos num dia bem quente de verão. A Provence é a região mais famosa da França (e provavelmente do mundo) pelos seus rosés - quase 80 % de seus vinhos são rosados"

As uvas mais utilizadas na composição do vinho rosé são a Chardonnay, base dos vinhos brancos secos; a Grenache, encontrada em vários cantos do mundo; a Merlot, também usada nos Bordeaux; a Pinot Noir, que serve de base para champagnes; a Gamay, que é mais delicada e menos ácida; e a Cabernet Sauvignon, com uma cor intensa e um alto teor de tanino, substância que confere aquele gostinho amargo ao vinho.
Na França e nos países mediterrâneos da Europa, o rosé tem história e popularidade. "Na França, eles são particularmente comuns nas regiões mais mornas, no sul do país. São vinhos sobretudo refrescantes, frutados, que podem ser bebidos num dia bem quente de verão. A Provence é a região mais famosa da França (e provavelmente do mundo) pelos seus rosés - quase 80 % de seus vinhos são rosados", afirma a colunista do Bolsa de Mulher Sonia Melier, expert em vinhos, que destaca também a produção portuguesa, responsável pelo famoso Mateus rosé: "Houve períodos, nos anos 60, em que os portugueses Mateus rosé e Lancers chegaram a ser os vinhos mais vendidos no mundo", observa Sonia. Já em outras regiões do mundo, o rosé se deparou com os dois lados da moeda: o sucesso e a rejeição.

Sufocado pelos mitos
No Brasil, ao mesmo tempo em que fascinou muitos degustadores por causa de sua imagem atraente, a bebida cor-de-rosa gerou certo preconceito por parte de outros, que julgavam, pela aparência e pela suavidade de seu aroma, que este era um vinho "para mulheres". Entre os norte-americanos não foi diferente, tanto que os fãs dos rosados resolveram criar o Rosé Avengers and Producers. "É um consórcio internacional de produtores de vinho criado para acabar com o estigma que durante tanto tempo se aplacou sobre esse tipo de vinho, em particular nos Estados Unidos e também aqui. Nesses dois países ainda se pensa que rosé não é um vinho sério, que é coisa pra mulheres ou mariquinhas, uma afronta à masculinidade", conta Sonia Melier.
De fato, o sabor frutado e a cor dos rosés chamaram a atenção do público feminino e dos novos apreciadores de vinhos. A onda rosada chegou ao litoral brasileiro e fez sucesso entre os anos 80 e 90. Mas a imagem de vinho "só para mulheres", ou mesmo de "fraco" ou "ruim", ficou. A reputação era ainda pior devido a outro fator - diziam que o rosé causava dor de cabeça. Segundo Alexandra Corvo, o argumento tinha justificativa: "Como, naquela época, grande parte dos rosés que bebíamos aqui vinha da Europa, havia uma quantidade maior de dióxido de enxofre (SO2), um conservante usado na indústria vinícola para que o vinho, que é muito leve, agüentasse a viagem. O enxofre era o principal responsável pelo mal-estar que algumas pessoas mais sensíveis sentiam após tomar a bebida", esclarece a sommelier, que garante que o preconceito não tem mais nenhum fundamento, especialmente porque hoje as concentrações de SO2 são cada vez menores e bons vinhos rosés já estão sendo fabricados em lugares mais próximos, como Chile e Argentina.

Exatamente por isso, uma nova onda de popularidade está estimulando o consumo dos rosados por aqui. "A atual produção desses países próximos e também a produção nacional está aprimorando a qualidade dos rosés. Devido à variedade, as pessoas estão começando a provar e a degustar mais esses vinhos. Há um marketing muito forte relacionado a isso, com a mídia divulgando e focando mais nos rosados e com o surgimento de vários eventos que os tornam o alvo das atenções", ressalta Marcos Lima, professor da Associação Brasileira de Sommeliers. Para ele, o preconceito é imperdoável no mundo dos vinhos. Tanto Marcos quanto Alexandra dão destaque à qualidade dos nossos espumantes brasileiros. Vale experimentar.

"Sempre prefira comprar em lugares mais escuros e com alta rotatividade, ou seja, vendas freqüentes. Assim o vinho não fica parado, absorvendo a luz das lâmpadas e do sol".

A idéia de "quanto mais velho, melhor" deve ser deixada de lado quando o assunto é vinho rosé. Ao contrário dos fortes tintos, a delicadeza dos rosados não permite que o seu tempo de conservação seja muito extenso. "Para saborear um rosé, a máxima deve ser oposta: quanto mais jovem, melhor", afirma o sommelier Marcos Lima. O vinho rosado tem vida mais curta, pois estraga rápido. "Ele não envelhece como o tinto porque as características da uva tinta não são suficientemente extraídas na maceração dos rosés", diz Alexandra Corvo, que dá duas dicas para quem quer comprar um bom vinho rosé: "Deve-se escolher uma safra bem jovem. Como estamos no início de 2008, o ideal é que se consuma um de 2006 ou 2007. Além disso, é bom dar preferência a garrafas escuras", indica. Apesar de haver muitos rosés em garrafas transparentes, justamente para destacar a cor da bebida, as escuras são melhores pois conservam o vinho. Alexandra explica que a luz altera a composição e o faz estragar mais rapidamente. "Por este motivo, sempre prefira comprar em lugares mais escuros e com alta rotatividade, ou seja, vendas freqüentes. Assim o vinho não fica parado, absorvendo a luz das lâmpadas e do sol", aconselha a sommelier.

Rosé: a cor e o sabor do verão
Enquanto o vinho tinto parece perfeito para combinar com o friozinho do inverno, o frescor do rosé tem tudo a ver com o calor do verão. Os rosados caem bem com comidinhas leves, seja acompanhando pratos de carnes brancas, como peixe e aves, ou mesmo sanduíches, canapés e aperitivos. Para Marcos Lima, o rosé tem a cara do clima brasileiro, além de ser versátil, pois se encaixa em diversas situações e eventos. Ele dá a dica: "Vitela, lombinho, mariscos e peixes, como o Vermelho, ficam ótimos com uma taça de vinho rosé. Sobremesas com frutas acompanhadas com um demi-sec também". O rosé combina também com frios e queijos leves. A sommelier Alexandra Corvo ainda recomenda as saladas, mas sem vinagre: "Os pratos não podem ser muito gordurosos ou ter um sabor forte. Peixes em geral são boa pedida, mas evite o salmão e o atum por causa do gosto mais acentuado". A colunista Sonia Melier lembra que o rosé deve ser servido mais frio, entre 6 e 10º C. Bom para refrescar!
Postado por For Women às 20:47 |  
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